quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Sobre os (des)encontros da vida

Estamos vivenciando um período de ocupação das escolas da rede estadual por parte dos educandos. Essa ação foi motivada por uma série de questões (que não cabe aqui serem discutidas, mas que podem servir de pano de fundo para outra postagem).
Tive a oportunidade de visitar uma unidade educativa ocupada, na ocasião eu tinha sido convidado para ministrar a oficina: “Consciência corporal: corpo e política”. Me senti entusiasmado pelo convite, pois havia nele uma carga de seriedade, de vontade e desejo de mudança, que há tempos não via emanar em uma manifestação. Me organizei para a ação e no dia marcado estava eu lá.
Tinha no grupo umas 30 ou 40 pessoas entre educandos, educadores, estudantes universitários, militantes e demais pessoas que se identificaram com a ação de ocupação. O início da oficina ocorreu de maneira meio tímida e enigmática, porém aos poucos os vínculos foram sendo estabelecidos e as coisas foram acontecendo. A proposta da oficina era realizar um trabalho corporal, com aquecimento, jogos criativos e criação coletiva, atrelados a uma discussão sobre a importância da consciência corporal para as relações sociais e da expressão corporal enquanto ação consciente transformadora, reflexiva e coletiva.
O final da oficina foi com a apresentação de uma dança criativa coletiva, realizada em grupos e com uma roda onde fizemos um feedback da oficina, sobre posicionamento político e sobre a importância daquela ocupação para aquele grupo. O que me deixou mais impressionado não foi a maneira em como as coisas aconteceram, nem a sinergia do grupo, nem o desejo do grupo de vivenciar o processo da maneira mais intensa e consciente possível. O que me deixou em estado de êxtase foi a maturidade e a compreensão que o grupo demonstrou durante a finalização da nossa oficina. A relação que cada um fez da experiência vivida com a importância do fortalecimento coletivo e com a importância da consciência clara nas práticas e nas propostas de resistência e de manifestações políticas e sociais. Aquela tarde de sábado me deixou mais desejoso e provocado, ser acolhido num território antes estranho e por pessoas estranhas, que compactuam dos mesmos desejos e das mesmas ideias só me fez fortalecer a vontade de resistir, de compartilhar e de se expandir.

Ao finalizar a oficina eu juntei minhas coisas, cumprimentei o grupo e fui embora sabendo que um pouco de mim havia ficado ali e um pouco da cada um que esteve lá estava indo comigo, afinal de contas eu não sou somente eu, mas sou milhares em mim, formado pelos (des)encontros da vida.

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